Ditirambos

I

Hoje caminhei ao lado da flor
Sereno, contemplativo e tonto
Sem saber ao certo
O que me deixa desconcertado
Inerte
Frente à beleza que emana
De um sorriso
Ou de um farol no meio da escuridão...

II

Entre canhões inativos e enferrujados
Eclodiu o fim de um cativeiro
As amarras de um tosco passado
Onde ainda via amor
E que se esvaiu como a brisa
Como os dias sempre a morrer...

III

Cliques, fotos, fatos,
Representações
Que só retratam
A beleza de ruínas e plantas
Ou de gente que finge se importar
Com algo além do curtir, amei
De mentiras instagrameáveis...
Vou além do belo,
Quero a verdade
A poesia, a cor...

IV

Em contato
Com essa beleza cor de canela
Num rosto redondo de lua,
Tão solar
Quanto me permito perceber
Um encanto
Que só em você
Noto aos poucos, parceladamente
Mesmo vendo tanta beleza
Nos dias que transcorrem soltos.

V

Mesmo sabendo que as flores
São belas como o dia
Se escondendo por trás das ruínas
Cedendo o largo e às horas
À lua tímida e majestosa
Um pouco diversa daquela
Que, por um simples sorriso,
Povoa de alegria
O tempo incerto das horas.

VI

E agora já nem sei
Também não pretendo compreender
O que ocorre comigo...
Amor já não pode ser
Se tudo o que já vivi
Foi real, bem verdadeiro.
Só sei que não poderia ser nada do que já vi...
E por isso, me calo,
E no silêncio vou capturando
O que a vida permitir.

Alcântara, 15/16 de Setembro de 2021.

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