O homem com a caixa de tomates

O homem com a caixa de tomates, cansado, na cadeira de deficiente do ônibus. O neto ao seu lado, pessoas se amontoando. A vida em uma vaga perspectiva.
Lembrara naquele momento, de sua origem, quase semelhante. A origem humilde, a casa de barro. As manhãs na roça, plantando milho, arroz, feijão… E no sangau com os irmãos e os pais, plantando a mandioca que, além da farinha que consumiam, daria uma boa ração pros porcos. A caça às rolinhas, tão pobres em suas existências quanto eles. Dava pena matar, as bichinhas.
Crescera. As roupas usadas, dos irmãos mais velhos passavam pros mais novos. Crescera. A pobreza doía-lhe profundamente. A vida parecia mais cruel e inconstante… O horizonte em tom rosado, rodeado de vegetação densa e nativa, visualmente próximo aos campos da Baixada, não tinha mais encanto pra ele.
Foi embora. Veio pra cidade. Guardou o passado como uma lembrancinha incômoda na gaveta de um guarda roupa. O tempo se encarregou das perdas e ganhos. Sumia a família na qual se criou. Enquanto isso, formava outra. Mulher, filhos. Depois os netos, todos na mesma casa. A vida continuava difícil, mas a sorte, pensava, era poder sobreviver todos os dias, mesmo sofrendo. Afinal, essa era a vida. Desejava, no entanto, que aquele seu neto querido tivesse mais sorte. Que não fosse verdureiro. Não por vergonha, e sim para sofrer menos. Abraçou-se com o menino, e assim - nesse gesto, congelado no instante, terminamos essa narração.

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