Pensei em te escrever uma carta.

Pensei em te escrever uma carta, mas as dúvidas, medos e incertezas me impediram de fazer tal ato. O tempo até alivia as mágoas, mas também assombra os sentimentos.
Antes que fale qualquer coisa, peço que leia e perceba as palavras (dessas mal fadadas linhas) com todo o cuidado, se elas merecerem de você um segundo que seja de atenção. Não sei ao certo desde quando te conheço, mas percebo que não faz muito tempo que te percebo de verdade.
A percepção é refém de experiências, impressões,  gestos e palavras. Quando por uma circunstância externa, me aproximei de você, não sabia ao certo o que me esperava, apenas deixei o tempo dar indicativos - e fui vivendo cada dia, tentando entender o que talvez não devesse, e me sentindo bem com o tempo vivenciado.
Escrevi palavras doces, depois de tempos acres e duros. Recortei as dores do passado, guardei numa gaveta, lembrei de pessoas - amigos, paixões - gente que queria bem, com as quais me machuquei. Creia, eu evitei durante muito tempo,  com raras exceções, ser intenso, eu sei o quanto magoa e doi não ser compreendido, percebido ou minimamente respeitado por quem desejamos o bem.
Eu sempre fui a pessoa no caminho, que procura respostas da vida, e que por isso soa hermética ou meandrante. Também é uma proteção. Mas preferi não usar. Me desarmei. Cometi erros, e sempre pareceram os piores do mundo,  maiores do que a minha dedicação,  ou pelo menos pareciam colocados dessa maneira.
Não sou perfeito,  e isso não me assusta, assim como não soa incomum o balaio de medos em que me envolvo e que perfazem a minha personalidade.
Admito que infringi recomendações, me ausentei quando resolvi agir sem deturpar o que me foi dito, falei coisas que não consigo esquecer, e que doem até em mim, mas não esqueço da minha guerra interna.
Uma guerra interna.  Uma intuição dividida entre a dedicação cortês e o medo de repetir as mesmas mágoas. Ao mesmo tempo em que uma instigava os sentidos em direção a um sentimento leve, que pouco exige, que acredita num tempo relativo, que outrora era justificativa para sentimentos ilusórios que faziam parte de mim, a outra dizia que eu repetia os erros e - pior ainda - seria pior, posto que não houvesse aprendido.
A segunda passou a encontrar razão nas suas palavras - muitas das quais, nunca rebati. Eu me senti como nada mais que um conhecido, quando foi desmentida uma idéia - afinal, como não faço parte do seu cotidiano - sou pouco mais que nada.
Sei que te machuquei, e que falo - e faço - coisas contraditórias e tristes, cortantes. Mas hoje, tendo em minhas lembranças muitas  das suas palavras (muitas, evasivas), resolvi te observar timidamente de longe, afinal, você sempre sem tempo e constantemente com o tom grave quando envia esparsas mensagens, não manifesta nada, e aparenta desprezo.  Desculpe eu gostar de você. Deve ser um erro meu - de não entender - as intempéries humanas sendo poeta.
São Luís, 27 de novembro de 2018.

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