Não é o meu perdão

Não é o meu perdão
Que vai mudar a história
E reverter o abismo...

Não é o meu perdão
Que vai pôr um fim
À fome de milhões,
Ao povo nos lixões,
Aos ossos nas prateleiras,
À miséria grassando inclemente...

Não é o meu perdão
Que fará minorar o desemprego;
Não fará recuar o fascismo;
Também não dará sossego
Às famílias sem arrimo
Dos mortos por Covid sem auxílio
Deixados à própria sorte
Por um projeto de poder
Que tortura, mata e rouba
Sonhos, vidas e esperanças;
E sem pudor, ainda tripudia
De quem morre pela inação e descaso,
Abandonado ao próprio acaso,
Pois a caneta famosa
Só pode assinar
Recursos para burguês
E tantas besteiras que não
Não interessam ao povo
Definhando de fome
Sem dinheiro pro pão...
Enquanto, num efeito manada,
Milhões procuram um herói - ou um Deus
Pra seguir até morrer,
Abraçados a outra bandeira,
Orgulhosos sem ter motivo...

Foda-se o perdão
Que vem com a tua proposta
Nesse moralismo pequeno burguês e cristão.
Não concilio com a indiferença,
Não abraço a inconsequência,
Tantas vidas perdidas
Por influência
De gente que errou
E ainda não reconhece
Fecha os olhos
Pros crimes de ódio,
Violência em alta,
Cortes em tudo que o pobre precisa,
Recorde de fome,
De mortos,
De desemprego...

Foda-se esse instinto
De começar de novo,
Aceitar de volta.
O fascismo é um caminho
Sem volta...
E remorsos hoje são tão fáceis
Que não resolvem
Não melhoram
A vida de tanta gente...
Já não vale mais nada
Não traz de volta à vida
Um universo de gente...
Nesse moralismo que nada muda
Nada resolve...

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